segunda-feira, 25 de junho de 2012

Construção do meu Ylê Axé!!!

Começou assim: Eu comprei um espaço para montar minha casa de Axé e este vídeo como vocês podem ver foi a reforma deste espaço! Demorei 7 dias mas valeu a pena porque no final foi linda a festa da Oxum de minha esposa!
 Os filhos de Oxaguiã não param talvez porque oxaguiã não goste de preguiça, estou sempre reformando ou construindo algo! Em constante movimentação! Parar jamais! Meu mais recente projeto é um poço que estou terminando! Então esta lenda de Ajagunã tem tudo haver comigo e espero que vocês gostem!


AJAGUNÃ DESTRÓI PALÁCIOS PARA O POVO TRABALHAR!!!
 

Ajagunã, o filho guerreiro de Oxalá, andava junto com Ogum fazendo a guerra. Onde Ogum destruía uma cidade, Ajagunã construía outra maior e mais próspera. Conquistavam para seu povo todos os campos de inhame e todas as riquezas em ouro e escravos.
O jovem Oxalá não tinha descanso, estava sempre provocando novas situações, obrigando todo mundo a trabalhar e progredir. Onde a paz resultava em calmaria e preguiça ele provocava a discórdia e o movimento, ninguém podia se acomodar na presença de Ajagunã.
Um dia, entre uma batalha e outra, Ajagunã foi à cidade de Ogum em busca de munição. Lá chegando, viu que o povo festejava. Tinham acabado a construção de um palácio novo, que ofereciam para o seu rei Ogum. A eles perguntou Ajagunã:
"Que fazeis agora que o palácio está feito?" Responderam eles: "Descansamos de nosso feito. Festejamos". Disse Ajagunã: "Vosso rei está em guerra e tardará. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual ele haverá de mais se orgulhar". E tocou a parede do palácio com sua espada e o palácio ruiu.
Ajagunã voltou para a guerra e quando, de outra feita, à cidade retornou, lá estava o palácio refeito, maior, mais imponente, mais bonito. Ao povo que comemorava com festas a conclusão da nova fortaleza de Ogum, perguntou Oxalá Ajagunã: "Que fazeis agora que o palácio está feito?" Responderam eles: "Descansamos do nosso feito. Festejamos". Disse Ajagunã: "Vosso rei está em guerra e tardará. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual ele haverá de se orgulhar". E derrubou o palácio de novo. E tantas vezes isso se repetiu que os habitantes daquela cidade se transformaram num povo de grandes construtores e sua engenharia é reconhecida até os dias de hoje. E tudo porque Ajagunã não gosta de ver ninguém parado.

domingo, 10 de junho de 2012

lendas de Xangô






Xangô (do iorubá Şàngó) teria sido, enquanto personagem histórico, o terceiro alafim (soberano) de Oyó. Era filho de Oraniã e de Torossí, filha de Elempê, rei dos tapás, que firmara uma aliança com Oraniã. Xangô cresceu no país de sua mãe indo se instalar, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Ọba Kòso que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus orikis (louvores).
Dadá Ajacá, irmão consangüíneo de Xangô, filho mais velho de Oraniã, reinava em Oyó por essa época. Seu caráter era calmo e desprovido da energia necessária a um verdadeiro chefe. Xangô o destronou e Dadá Ajacá exilou-se em Igboho, durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de cauris, chamada Adé de Baiâni. Depois que Xangô deixou Oyó, Dadá Ajacá voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele mostrou-se, agora, valente e guerreiro e, voltando-se contra os parentes da família materna de Xangô, atacou os tapás, sem grande sucesso.

    Xangô na África

Xangô, em seu aspecto de orixá, é filho de Oraniã, tem Iamassé (Iyá Masé) como mãe e é marido de Oiá, Oxum e Obá. Viril e potente, violento e justiceiro, castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por este motivo, a morte pelo raio, arma de Xangô, é considerada infamante e uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô. O proprietário deve pagar pesadas multas ao sacerdotes do Orixá que vêm procurar, nos escombros, os ẹdùn àrá (pedras de raio) lançados por Xangô e profundamente enterradas no local onde o solo foi atingido. Essas "pedras de raio", na realidade machados neolíticos, são postas sobre um pilão de madeira esculpido, o odó, consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas emanações de Xangô e contém o seu axé - o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhe a força e a potência.
O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo o sacrifício mais lhe convêm. Fazem-lhe, também, oferecimentos de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie Sesé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeita à mesma proibição. O emblema de Xangô é um machado de duas lâminas estilizado, o oxé, que os seus iniciados trazem na mão, quando em transe.

Xangô no Novo Mundo


Changó, representação cubana
O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas Antilhas. Em Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos africanos praticados no Estado de Pernambuco.
Na Bahia, seus fiéis usam colares vermelho e branco, como na África. Quarta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Assim que saudam, gritando: Kawó-Kabiyèsílé!, "Venham ver o rei descer sobre a Terra!"
Os tambores bàtá não são conhecidos no Brasil, embora ainda o sejam em Cuba, mas os ritmos batidos para Xangô são os mesmos. São ritmos vivos e guerreiros, chamados tonibobé e alujá, e são acompanhados pelos ruídos dos xerés (chocalhos), agitados em uníssono. A dança preferida de Xangô se faz ao som do alujá, um ritmo quente, rápido, que expressa força e realeza recordando, através do dobrar vigoroso do Rum, os trovões dos quais Xangô é o senhor.
No decurso de suas danças, Xangô brande orgulhosamente seu oxé (machado duplo) e assim que a cadência se acelera ele faz o gesto de quem vai pegar pedras de raio num labá (saco) imaginário, e lançá-las sobre a Terra. O simbolismo de sua dança deixa, a seguir, aparecer seu lado licencioso e atrevido.
No decorrer de certas festas, Xangô aparece frente à assistência, trazendo sobre a cabeça um ajerê, panela cheia de furos, contendo fogo, e começa a engolir mechas de algodão embebidas em dendê e inflamadas, denominadas acará, como na África. É uma referência à lenda segundo a qual Xangô tinha o poder de cuspir fogo.
Na Bahia, segundo consta, existem doze Xangôs: 1. Dadá; 2. Obá Afonjá; 3. Obalubé; 4. Ogodo; 5. Obá Kosô; 6. Jakuta; 7. Aganju; 8. Baru; 9. Oraniã; 10. Airá Intilé; 11. Airá Igbonán; 12. Airá Adjaosi. Na verdade, Dadá (1) é irmão de Xangô, Oraniã (9) é seu pai e Aganju (7), um de seus sucessores. Na Bahia acredita-se que Ogodô (4)é originário do país tapá e que segura dois oxés quando dança, sendo o seu ẹdùn àrá composto de dois gumes. Os Airás (10 a 12) seriam Xangôs muitos velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis, sẹgi, em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savé.
Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, no Brasil, e com Santa Bárbara, em Cuba. Em Recife cultuam dois Xangôs principais: Xangô-Velho, identificado com São Jerônimo, cuja festa é a 30 de setembro, e Xangô-Moço (Ani-Xangô), sincretizado com Saõ João e celebrado a 24 de junho. Em Porto Alegre Xangô Dadá é identificado com São João Batista que no seu dia, 24 de junho, não “baixa” porque, com a queima de fogos que o festejam, ele iria incendiar o mundo
Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho de Xangô, a cerimônia parece conter reminiscências de fatos antigos, sem que os participantes saibam, muitas vezes as histórias dos iorubás. O iaô de Dadá vem dançar frente a assistência, tendo na cabeça uma coroa, o Adê de Baiâni. Logo depois, Xangô montado sobre um (ou uma) de seus iniciados, toma a coroa, colocando-a sobre sua própria cabeça. Após ter dançado assim adornado por um certo tempo, a coroa é restituída a Dadá. Este elemento do ritual parece ser uma reconstituição do destronamento de Dadá Ajacá por Xangô, e sua volta ao poder, sete anos mais tarde.
O arquétipo de Xangô é o das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de sua importância, real ou suposta. Das pessoas que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição e, nestes casos, são capazes de se deixarem levar por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com tato e encanto no decurso de reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xangô é aquele das pessoas que possuem elevado sentido de sua própria dignidade e de suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo os humores do momento, mas sabendo guardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça.

Xangô e a morte

Segundo Os Nagô e a Morte, de Juana Elbein dos Santos, Xangô representa dinastia, conceitualizando uma corrente de vida ininterrupta, expressa pela função de Alafim, "epítome do poder absoluto da realeza".
Isto faz com que, apesar de Xangô resumir em si a herança, ou melhor, a imagem coletiva dos ancestrais - expressa pela sua parte de branco, de árvore e de madeira - representa fundamentalmente o poder de realização e de elemento procriado, expresso por sua parte de vermelho, de fogo e de trovão. Se, pela sua matéria de origem ancestral e pelo seu aspecto exterior, ele lembra um ancestre egun (um mito conta que Egun roubou suas roupas), sua função consiste em assegurar a vida individualizada na aiê.
Xangô retira-se da cabeça de suas sacerdotisas quando estas estão prestes a morrer. Xangô não fica onde há mortos. Lydia Cabrera, intrigada com esse aspecto de Xangô, perguntou a seus informantes "por que ele tem tanto medo dos mortos". Todos os informantes, unanimemente, responderam que não é uma questão de medo. "Xangô não tem terror dos iku (mortos)", "Xangô não foge dos mortos, ele não tem medo de nada", e a resposta é significativa: "Xangô não gosta 'da queleto' frio porque ele está vivo, quente", dando relevo, segundo Lydia Cabrera, "a uma incompatibilidade essencial do deus com a morte". Interpretamos essa incompatibilidade como resultado de ambos pertencerem a categorias diferentes, sendo o "assento" de Xangô absolutamente diferente do de egun.

Mitos de Xangô


Xangô


  • Durante sua infância, em Tapá, Xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava nenhuma reclamação. Xangô só gostava brincadeira de guerra e de briga. Comandados pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores. Crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventura gloriosas. Xangô tinha um oxé - machado de duas lâminas; tinha também um saco de couro, pendurado em seu ombro esquerdo. Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé: aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amendontrar seus adversários, e a pedras e raios com as quais ele destruía as casas de seu inimigos. O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Ai chegando, as pessoas assustadas disseram: "Quem é esse perigoso personagem!" "Ele é brutal e petulante demais!" "Não o queremos entre nós!" "Ele vai maltratar-nos!" "Ele vai espalhar a desordem na cidade!" "Não queremos entre nós!" Mas Xangô os ameaçou com seu oxé. Sua respiração virou fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio. Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando: Kabiyesi Xangô, Kawo Kabiyesi Xangô Obá Kossô! "Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!"
  • Quando Xangô tornou-se rei de Kossô, ele pôs-se à obra. Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam, Xangô fazia as coisas com calma e dignidade e realizava trabalhos úteis à comunidade. Mas esta vida calma não convinha a Xangô, que adorava as viagens e as aventuras. Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum, o terrível guerreiro, o poderoso ferreiro. Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Ela ajudava Ogum em suas atividades. Todas as manhãs, Iansã o acompanhava à forja e carregava, para ele, as ferramentas. O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku e Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng... Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar. Vez por outra, ele olhava para Iansã. Iansã, também, espiava furtivamente Xangô. Xangô era vaidoso e cuidava muito de sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como o de uma mulher. Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas. Que elegância! Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tornou-se sua primeira mulher.
  • Xangô voltou por pouco tempo a Kossô, seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó, o reino fundado, antigamente, por seu pai Oraniã. O trono estava ocupado por um meio irmão de Xangô, mais velho que ele, chamado Dadá Ajacá, um rei pacífico, que amava a beleza e as artes. Xangô instalou-se em Oyó, um novo bairro que chamou de Kossô. Ele conserva assim, seu título de Obá Kossô - "Rei de Kossô". Xangô guerreava para seu irmão Dadá. O reino de Oyó expandia-se para os quatros cantos do mundo. Ele se estendeu para o Norte. Ele se estendeu para o sul. Ele se estendeu para o Leste e se estendeu para o Oeste. Xangô, então, destronou seu irmão Dadá Ajacá e fez-se rei em seu lugar.
  • Xangô construiu um palácio com cem colunas de bronze e tinha um exército de cem mil cavaleiros. Vivia entre suas mulheres e seus filhos. Iansã, sua primeira mulher, bonita e ciumenta. Oxum, sua segunda mulher, coquete e dengosa. Obá, sua terceira mulher, robusta e trabalhadora. Sete anos mais tarde, foi o fim do seu reino: Xangô, acompanhado de Iansã, subira a colina de Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze. Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios. A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio! Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros. Tudo havia desaparecido, fulminado, espalhando e reduzido a cinzas. Xangô, desesperado, seguido apenas por Iansã, voltou para Tapá. Entretanto, chegando a Kossô, seu coração no suportou tanta tristeza. Xangô bateu violentamente com os pés no chão e afundou-se terra a dentro. Oxum e Obá transformaram-se em rios e todos tornaram-se orixás.
  • Xangô procurava a melhor forma de governar e de aumentar seu prestígio junto ao seu povo. Conta-se que, para fortalecer seu poder, Xangô mandou trazer da terra dos baribas um composto mágico, que acabaria, contudo, sendo sua perdição. O rei Xangô sempre procurava descobrir novas armas para com elas conquistar novos territórios. Quando não fazia a guerra, cuidava de seu povo. No palácio recebia a todos e julgava suas pendências, resolvendo disputas, fazendo justiça. Nunca se aquietava. Pois um dia mandou sua esposa Iansã ir ao reino vizinho dos baribas e de lá trazer para ele a tal poção mágica, a respeito da qual ouvira contar maravilhas. Iansã foi e encontrou a mistura mágica, que tratou de transportar numa cabacinha. A viagem de volta era longa, e a curiosidade de Iansã sem medida. Num certo momento, ela provou da poção e achou o gosto ruim. Quando cuspiu o gole que tomara, entendeu o poder do poderoso líquido: Iansã cuspiu fogo!
  • Xangô ficou entusiasmadíssimo com a nova descoberta. Se ele já era o mais poderoso dos homens, imaginem agora, que tinha a capacidade de botar fogo pela boca. Que inimigo resistiria? Que povo não se submeteria? Xangô então passou a testar diferentes maneiras de usar melhor a nova arte, que certamente exigia perícia e precisão. Num desses dias, o obá de Oió subiu a uma elevação, levando a cabacinha mágica, e lá do alto começou a lançar seus assombrosos jatos de fogo. Os disparos incandescentes atingiam a terra chamuscando árvores, incendiando pastagens, fulminando animais. O povo, amedrontado, chamou aquilo de raio. Da fornalha da boca de Xangô, o fogo que jorrava provocava as mais impressionantes explosões. De longe, o povo escutava os ruídos assustadores, que acompanhavam as labaredas expelidas por Xangô. Aquele barulho intenso, aquele estrondo fenomenal, que a todos atemorizava e fazia correr, o povo chamou de trovão. Mas num daqueles exercícios com a nova arma, o obá errou a pontaria e incendiou seu próprio palácio. Do palácio, o fogo se propagou de telhado em telhado, queimando todas as casas da cidade. Em minutos, a orgulhosa cidade de Oió virou cinzas.
  • Passado o incêndio, os conselheiros do reino se reuniram, e eviaram o ministro Gbaca, um dos mais valentes generais do reino, para destituir Xangô. Gbaca chamou Xangô à luta e o venceu, humilhou Xangô e o expulsou da cidade. Para manter-se digno, Xangô foi obrigado a cometer suicídio. Era esse o costume antigo. Se uma desgraça se abatia sobre o reino, o rei era sempre considerado o culpado. Os ministros lhe tiravam a coroa e o obrigavam a tirar a própria vida. Cumprindo a sentença imposta pela tradição, Xangô se retirou para a floresta e numa árvore se enforcou. '"Oba so!", "Oba so!" "O rei se enforcou!", correu a notícia. Mas ninguém encontrou seu corpo e e logo correu a notícia, alimentada com fervor pelos seus partidários, que Xangô tinha sido transformado num orixá. O rei tinha ido para o Orum, o céu dos orixás. Por todas as partes do império os seguidores de Xangô proclamavam: "Oba ko so!", que quer dizer "O rei não se enforcou!" “Desde então, quando troa o trovão e o relâmpago risca o céu, os sacerdotes de Xangô entoam: "O rei não se enforcou!" "Oba ko so! Obá Kossô!" "O rei não se enforcou".”

Xangô na Umbanda


São Jerônimo, sincretizado com Xangô na Umbanda
Na Umbanda, as cores de Xangô são o marrom e amarelo-ouro. Ele bebe cerveja preta e tem sua morada e o seu altar na rocha, de preferência onde haja também uma cachoeira. Seu axé está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.
É o Orixá da justiça, da retidão, do equilíbrio e determinação, que abomina os mentirosos, os ladrões e os bandidos. Recorrem a ajuda de Xangô os injustiçados e os aflitos, tanto fisicamente como espiritualmente. Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade. Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Uma casa atingida por um raio é sinal de descontentamento de Xangô com algum de seus moradores, que deve fazer oferendas para acalmá-lo.
É sincretizado com São Jerônimo, devido às representações do santo nas quais aparece com um leão aos pés, símbolo de realeza para os africanos.







sexta-feira, 8 de junho de 2012

Culto a Baba Egun

 


  
EGUNGUN

O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou , e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.

Ampliar : Foto de Michel Huet - Egungun
- Babá Egun ,sob vigilancia do Ojé ,aconselha um fiel prostrado à sua frente. -
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.
A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia , ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixan para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.
Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixan.
Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns ,ainda mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual ,também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; e o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.


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